Foto Acervo do Sítio Roberto Burle Marx/IPHAN

Artista e paisagista

“Se eu pretendesse fazer uma obra perfeita, não saberia por onde começar. Erros podem ser corrigidos. Tenho medo é da fórmula. O importante é ter curiosidade.”
Roberto Burle Marx

Roberto Burle Marx (1909-1994) é um dos principais paisagistas do século XX, reconhecido nacional e internacionalmente. Segundo a sua concepção inovadora de paisagismo, foi o criador do jardim tropical moderno, propondo diálogo entre a botânica tropical e a modernidade urbana, numa relação de continuidade entre os sistemas naturais e estéticos. Para ele os jardins são elementos integrados à vida social e urbana.

Seus jardins tropicais resgataram espécies botânicas e trouxeram plantas até então desconhecidas do grande público, num esforço expedicionário pelos rincões do Brasil e do mundo e de catalogação de novas espécies, dos quais vários levam em sua denominação científica o nome de Burle Marx.
Sua trajetória no campo paisagístico começou cedo. Já em 1914, na casa da família no Rio de Janeiro, quando criança, Roberto teve suas primeiras experiências no jardim da família, recém-chegada de São Paulo.

Roberto também foi um homem das artes, um artista completo. Seus pais sempre propiciaram aos filhos experiências do mundo artístico. Entre 1928 e 1929, quando a família se mudou para Berlim, na Alemanha, o jovem Burle Marx frequentou óperas, teatros, museus e galerias de arte e entrou em contato com a produção das vanguardas europeias, de artistas como Van Gogh, Picasso e Paul Klee. Roberto chegou a estudar pintura no ateliê de Degner Klemn. Também em terras alemãs percebeu o potencial estético da flora tropical quando visitou o Jardim Botânico de Dahlem.

No regresso ao Brasil, em 1930, entrou para a Escola Nacional de Belas Artes, dirigida na ocasião pelo arquiteto e urbanista Lúcio Costa. Além de mentor de Roberto, foi dele o convite para que realizasse seu primeiro projeto como paisagista: um jardim privado para a família Schwartz em Copacabana, projetado em parceria com Gregori Warchavchik.

Poucos anos depois, Roberto Burle Marx foi nomeado diretor de parques e jardins na cidade de Recife, em Pernambuco. Unido ao grupo do arquiteto moderno Luiz Nunes, concretizou projetos paisagísticos para as praças da capital do estado, quando gerou polêmica com suas flores vermelhas de cana-da-índia plantadas no Jardim da Casa Forte, e com o Cactário Madalena, que congregou plantas da caatinga e do sertão nordestinos, chocando a sociedade urbana recifense com a dureza do interior.

Mas o reconhecimento público nacional do paisagista veio em 1936, quando ele fez parte do grupo liderado por Le Corbusier, que projetou o edifício do então Ministério da Educação e Saúde (MES), atual Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro. Naquele momento concretizou-se a percepção de Roberto como criador do jardim moderno, também chamado de jardim tropical moderno ou jardim em estilo brasileiro. Os canteiros curvos criaram uma experiência espacial inovadora para os pedestres.

Dali em diante foram vários projetos importantes: em 1938, seu primeiro jardim público na cidade do Rio de Janeiro, a Praça Senador Salgado Filho, situada em frente ao Aeroporto Santos Dumont; em 1940, os jardins dos edifícios da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB); o projeto paisagístico do Parque Sólon de Lucena, na Paraíba, e do Conjunto da Pampulha, em Belo Horizonte, em Minas Gerais, que estabeleceu um diálogo com a arquitetura de Oscar Niemeyer; e, ainda nos anos 1940, o Parque do Grande Hotel de Araxá, também em Minas Gerais, e os jardins das Serena Beach Properties em Santa Barbara, Califórnia, nos Estados Unidos.

A ligação com Minas Gerais extrapolou esses projetos quando Roberto Burle Marx conheceu o botânico Henrique Lahmeyer Mello Barreto, que o estimulou a estudar as plantas em seus locais de origem antes de utilizá-las em projetos. Para o Parque de Araxá, por exemplo, Burle Marx e Barreto realizam expedições de coleta pelo interior do estado, de modo a reproduzir com fidedignidade a flora mineira. Foram várias expedições botânicas como esta por inúmeras partes do Brasil.

Como seus trabalhos demandavam a utilização de uma quantidade significativa de plantas nativas, muitas delas inéditas em projetos paisagísticos, que precisavam ser conhecidas em termos de comportamento, estudadas e aclimatadas, Roberto precisava de um laboratório, uma espécie de quartel-general onde o “poeta das plantas” pudesse desenvolver seus ativos mais preciosos: o Sítio Roberto Burle Marx, adquirido em 1949.

Ao longo das décadas seguintes, Roberto fez do Sítio seu centro de gravidade, acompanhando diariamente a aclimatação e o desenvolvimento das plantas, em grande parte obtidas por meio das frequentes excursões de coleta que realizava a diferentes ecossistemas do Brasil, sempre acompanhado de botânicos e da equipe de seu escritório paisagístico.

Fundamentalmente conhecido e reconhecido pelos jardins e parques que criou ao longo de sua vida, Roberto Burle Marx era um artista completo: produziu centenas de gravuras, desenhos, esculturas, tapeçarias, pinturas sobre diferentes suportes, painéis de azulejos e cerâmica, joias, cenários e figurinos para teatro. Esse grande conjunto pode ser encontrado por todo o Sítio Roberto Burle Marx (veja mais aqui).